O sonho da casa própria se tornou um verdadeiro pesadelo para os moradores do Residencial Colorado 1 e 2, em Anápolis. Entregues em 2018 pela construtora Realiza Almeida Neves, com financiamento do programa Minha Casa, Minha Vida (Caixa Econômica Federal), os 256 apartamentos apresentam diversos problemas estruturais.
Infiltrações, mofo, entupimentos, caixas d’água furadas, trincas, fissuras, rachaduras, falhas na parte elétrica e pisos se soltando são apenas alguns dos problemas relatados pelos moradores. Diante da inércia das construtoras em resolver os problemas, 57 apartamentos e a administração do condomínio entraram com uma ação judicial no início de 2023.
Ao Mais Goiás, a Caixa destaca que de “acordo com suas responsabilidades” manteve contato com o síndico e com os moradores sobre as reclamações. A Realiza Construtora explicou que pegou a obra já no fim e coube à empresa apenas os serviços relacionados à conclusão e legalização do empreendimento para a entrega das chaves. A parte estrutural é de responsabilidade da Almeida Neves. A reportagem não conseguiu contato com a Almeida Neves para os esclarecimentos. As notas na íntegra estão disponíveis no final da reportagem.
“Desde que a obra foi entregue, é problema atrás de problema. Vazamento de telhado, salão de festa com derramamento de água, não é nem vazamento. Falta de escoamento de água das calhas dos prédios. Infiltração dentro dos apartamentos do quarto andar com goteira, vazamentos, inúmeros problemas. Apartamento do térreo tem mofo devido a falta de drenagem”, explica o síndico do condomínio Brendo Emanuel Pereira de Sousa em entrevista ao Mais Goiás.
A situação é ainda mais grave com as caixas d’água. “Temos diversas caixas d’água furadas por não terem colocado suporte. Elas foram colocadas diretamente na laje, e com isso elas furam ou racham”, diz Brendo. Quem mora no 4º e último andar é quem mais sofre. “Quando chove, a água da chuva acaba indo para dentro do apartamento. É uma situação crítica”, desabafa.
Ele diz que apartamentos em situação degradante estão habitados o que torna a situação ainda mais humilhante. “Tenho várias fotos de apartamentos que estão em estado de calamidade. É algo horrível de se ver. Muita gente quando veio pra cá, pagava aluguel. Na esperança do seu bem próprio muita gente veio e estão nessa situação até hoje porque não tem pra onde ir”, pontua.
A advogada Ana Luiza Fernandes de Moura, que representa os moradores, afirma que todos os apartamentos estão em situação grave. “Como se trata de andares e disposições de apartamentos diferentes, os problemas se diferem, porém, estão todos em situações extremamente críticas”, ressalta.
Segundo Ana Luiza, as construtoras e a Caixa se negaram a prestar qualquer auxílio aos moradores. “Tentamos acordo extrajudicial, mas sequer compareceram no imóvel para tentar resolver os problemas de forma amigável. Os moradores já haviam feito incansáveis reclamações sem sucesso”, pontua.
Atualmente, o processo está na fase de perícia. A construtora já apresentou sua defesa no caso da ação movida pelo condomínio, mas ainda não teve início a fase de produção de provas.
“Os moradores estão frustrados ao verem um sonho se transformar em transtorno”, diz Ana Luiza. “O processo foi necessário porque os responsáveis não tomaram nenhuma providência para reparar os problemas”, conclui.
“Estamos vivendo em um mundo de fantasias”, diz zelador
Ao decidir judicializar o assunto, o Brendo destaca que quer apenas que a construtora possa fazer os reparos necessários para que os moradores tenham a vida que sempre sonharam. “A gente quer o que a gente sonhou e buscamos por muitos anos para ter. Como se diz, estamos vivendo um mundo de fantasias. Quando adquirimos estava tudo lindo mas com pouco tempo, não tem nem seis anos que estamos aqui, com um mês de condomínio eu já tenho fotos e vídeos da época”, desabafou.
De acordo com o síndico, à medida que o tempo passa, a situação fica mais crítica. “São inúmeros problemas e cada vez que passa vai aumentando os problemas. Quanto mais velho, mais problema aparece”, destaca.
Brendo destaca que os moradores não têm preocupação com a estrutura em si, mas sim com o que ele chama de “vício de construção”. “A estrutura em si dos prédios não deixa a desejar. Sou bem sincero nesse ponto, acompanho todos os blocos e a estrutura não está comprometida. O que compromete são esses vícios de construção”, pontua.
Com a palavra, a Caixa Econômica Federal
A CAIXA informa que o Residencial Colorado I, localizado em Anápolis (GO), foi contratado no âmbito do Programa Minha Casa, Minha Vida – Recursos FAR, junto à construtora Almeida Neves, que não concluiu as obras. Dessa forma, houve substituição da empresa pela construtora Realiza, responsável pela conclusão e entrega das unidades aos beneficiários em 2018, mediante emissão do Habite-se pela Prefeitura Municipal.
O banco esclarece que, após a entrega das unidades, a construtora manteve atendimento aos beneficiários e ao síndico referente a reclamações efetuadas, de acordo com suas responsabilidades, e ressalta, ainda, a importância da realização de manutenção preventiva e de conservação das unidades habitacionais e áreas comuns pelos moradores e condomínio.
Com a palavra, a Realiza Construtora
A Realiza Construtora assumiu a obra do Residencial Colorado 1, empreendimento do Programa Minha Casa, Minha Vida – Faixa I, como retomada, com 93,47% de obra executada, conforme descrito em contrato. Portanto, coube à Realiza Construtora apenas concluir as obras e serviços necessários à conclusão e legalização do empreendimento. Sendo assim, toda a parte estrutural é de responsabilidade da Almeida Neves. Tudo o que foi de responsabilidade da Realiza Construtora foi resolvido com o condomínio, por meio do departamento de pós-obra da construtora. Vale ressaltar que a Realiza Construtora também fez reparos em vários serviços executados pela construtora anterior, mesmo entendendo que não estivessem no escopo do contrato entre Caixa Econômica Federal e Realiza Construtora. Este caso está sendo tratado pela Caixa Econômica Federal, que busca a melhor solução.