MENU

O prefeito de Anápolis, Márcio Corrêa (PL), prestou contas de sua gestão referente ao primeiro quadrimestre de 2025 em audiência pública na Câmara Municipal, na tarde da última sexta-feira (27/6). A sessão, comandada pela vereadora Andreia Rezende (Avante), presidente da Câmara, teve plenário lotado e quase todos os vereadores presentes.
Corrêa respondeu a longas rodadas de questionamentos e apresentou o relatório que revela dívida consolidada de R$ 1,749 bilhão e aumento de 813% nos serviços da dívida em comparação ao mesmo período de 2024. A prestação periódica de contas é exigência da Lei de Responsabilidade Fiscal e serve para dar transparência à gestão pública e garantir fiscalização do Executivo pelo Legislativo.
No âmbito fiscal, o relatório do Executivo municipal detalha que a receita total caiu de R$ 750,3 milhões, em janeiro-abril de 2024, para R$ 642,3 milhões em 2025, uma redução de 14,4%. Apesar disso, a receita tributária cresceu 6,14% em termos nominais e 0,78% em valores reais.
Em contrapartida, arrecadações de IPTU (-1,23%), ISS (-3%), ITBI (-4,81%) e receita patrimonial (-24,73%) recuaram, e as transferências correntes, cujo principal componente é o ICMS, caíram 5,80%. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) teve retração real de 6,96%.
“Por isso estamos buscando o aumento da arrecadação, combatendo a sonegação fiscal e melhorando o ambiente de negócios”, destacou Corrêa.
Segundo o secretário de Economia, Marcelo Olímpio, a ampliação das transferências do SUS, na casa de 7,46%, no 1º quadrimestre de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024, “foi relevante para evitar uma queda maior na variação real”.
No detalhamento das despesas, o relatório informa que houve redução de 5,34% em gastos totais no período. Em “pessoal e encargos”, a despesa passou de R$ 58,9 milhões para R$ 66,3 milhões, motivada pelo reconhecimento de direitos legais dos servidores, mas com corte de 32% no número de cargos comissionados – de 1.046 para 721.
O custeio da máquina teve redução de 19,94%, de acordo com o secretário.
“O prefeito determinou a redução do custeio da máquina, foi reduzido e vamos reduzir mais”, explicou Olímpio.
As despesas de capital, por sua vez, caíram mais de 94,3%, pois a prefeitura investiu apenas com recursos próprios, convênios e emendas, sem recorrer a novas operações de crédito.
O impacto dos empréstimos contraídos em gestões anteriores ficou evidenciado nos “serviços da dívida”, que subiram de R$ 29 milhões no 1º quadrimestre de 2024 para R$ 54 milhões em 2025.
“Isso nos aflige”, admitiu o secretário, alertando que, em maio e junho, várias operações de crédito tiveram carência vencida, elevando ainda mais o custo. A gestão atual, disse ele, já trabalha para reduzir a dívida que se aproxima de R$ 1 bilhão.
Em sua fala, o prefeito frisou que a saúde é a “maior prioridade” de sua gestão e destacou que R$ 246,3 milhões foram repassados ao Fundo Municipal de Saúde, dos quais R$ 213,9 milhões foram liquidados em despesas – incluindo R$ 44,8 milhões em contratos de gestão, com R$ 29,1 milhões para atenção básica e R$ 15,6 milhões para o Hospital Municipal Alfredo Abrahão.
De acordo com os números mostrados, as receitas arrecadadas na área da saúde foram de pouco mais de R$ 185 milhões. O valor representa uma aplicação de 24,3% do orçamento na área, enquanto a lei federal determina a aplicação de, no mínimo, 15%. Ou seja, a aplicação superou o mínimo em quase 10%.
Para a secretária Municipal de Saúde, Eliane Pereira dos Santos, os números mostram a importância de ter programas federais habilitados no município, para recebimento de recursos
“Por isso estamos buscando credenciamentos, aumentar o número de agentes comunitários e outras ações”, destacou Eliane.
A prestação de contas da Secretaria Municipal de Saúde (Samusa) à Câmara Municipal foi realizada pela primeira vez na história devido a uma obrigatoriedade criada pelo PLO 193/2024.
Sobre educação, o prefeito comemorou a entrega de kits escolares e a previsão de seis escolas reformadas em julho, lembrando que a Secretaria de Educação comprometeu R$ 134 milhões, com R$ 74,6 milhões já liquidados para manutenção do ensino infantil e fundamental.
Na infraestrutura, mencionou obras custeadas com recursos próprios, como o viaduto do Recanto do Sol e postos de saúde nos bairros Alexandrina e Souzânia. Quanto à ponte estaiada, orçada em R$ 130 milhões (dos quais R$ 40 milhões executados), afirmou que “não há capacidade econômica no momento para retomar essa obra”. Já a implantação do maior Hemocentro do Centro-Oeste terá início na próxima semana, segundo anúncio de Corrêa.
Empresários de caçambas exibiram faixa no plenário com o apelo “Prefeito Márcio, nós, caçambeiros, precisamos do seu apoio sobre uma cobrança indevida da gestão passada de descarte de entulhos no aterro sanitário”.
Em resposta, Corrêa garantiu que tem discutido a demanda com a classe, sobretudo com a assessoria jurídica, com procuradoria e o secretário de Economia e que quando tomou conhecimento, compreendeu e teve “a sensibilidade que não é compreensível ser cobrado se não tem uma previsibilidade antes dos caçambeiros”.
Reafirmando o compromisso, disse: “Estamos buscando o caminho legal para subsidiar ou isentar os caçambeiros que foram cobrados retroativamente, sem o conhecimento da classe” e colocou seu gabinete à disposição.
O prefeito também anunciou a criação de um Refis para o ITBI, apontando que “a sonegação é altíssima”, e detalhou que o programa facilitará a regularização de imóveis e aumentará a arrecadação.
Por fim, projetou que o equilíbrio fiscal só será alcançado em 2026, reafirmando que a gestão está “buscando o aumento da arrecadação, combatendo a sonegação fiscal e melhorando o ambiente de negócios”.
Sobre o questionamento feito pelo vereador Domingos Paula (PDT) em relação ao perfil “Anápolis na Roda”, Márcio Corrêa afirmou que já foi “muitas vezes vítima de ataques políticos” e garantiu que “irá colaborar quando necessário”. Ele destacou ainda que se trata de uma “questão que se encontra em processo investigativo”.
Ao responder pela primeira vez, após 36 dias de silêncio, sobre o perfil “Anápolis na Roda”, investigado por promover ataques anônimos nas redes sociais, Corrêa declarou que “nunca processou jornalistas”, reconheceu ter sido alvo de ofensas ao longo dos anos e afirmou que, “se for investigado, contratará advogados”.
“Estamos passíveis de investigação. Não será a primeira nem a última pela função que exerço. Estou muito tranquilo nesse sentido”, disse o prefeito durante a audiência. Ele também mencionou ter “uns 500 grupos de WhatsApp” em seu celular, entre eles o Café com Pimenta, que chegou a ser citado no inquérito policial.
O prefeito foi citado na Operação Máscara Digital, deflagrada em 16 de maio de 2025 pela Polícia Civil de Goiás, em investigação de um esquema de ataques virtuais difamatórios contra adversários políticos e figuras públicas de Anápolis. O foco foi o perfil anônimo “Anápolis na Roda”, acusado de disseminar calúnias, injúrias e perseguição digital, possivelmente vinculado a servidores públicos.
Ao final da sessão, Márcio Corrêa não concedeu entrevista coletiva, justificando que estava “atrasado para um evento junino” e pediu desculpas. Embora tenha afirmado em plenário que tem dado entrevistas com frequência, ele não atendeu a nenhum veículo desde que seu nome foi incluído formalmente no inquérito da Operação Máscara Digital.